No interior do Paraná, sitiantes recebem pela "safra" de água
Na última semana de janeiro, dona Cassilda Matias Massambani, que possui 12 hectares na zona rural de Apucarana, no Norte do Paraná, foi até a cidade para receber o primeiro de 12 cheques de R$ 113 pela entrega da 'safra'. Ela não precisou plantar para obter esse produto, de grande procura e mercado garantido, um gênero de primeira necessidade, mas que, até pouco tempo atrás, não lhe trazia nenhum rendimento. Muito pelo contrário, aliás. Como ela gosta de frisar, só fazia a renda do sitiozinho dedicado à cultura de soja e milho safrinha cair diante de exigências como recompor matas ciliares e regularizar a reserva legal, que acabaram lhe tirando mais de 2 hectares de terras produtivas. Assim, o valor recebido, que em um ano garantirá uma renda extra de R$ 1.356 à sitiante, não podia ter vindo de uma atividade para ela tão inusitada: a de conservar três minas d'água que nascem em sua propriedade e que correm para um rio da região.
A produtora não foi a única a estar na fila do recebimento. Outros 63 agricultores, com propriedades nessa bacia hidrográfica, também puseram a mão em cheques com valores entre R$ 98,30 e R$ 562,80 pelo mesmo - e importante - motivo: a proteção das minas que brotam dentro de suas terras. Tal remuneração incomum, que passa a ser mensal por quatro anos, é resultado do Projeto Oásis, lançado em abril de 2009 pela Prefeitura Municipal de Apucarana com o objetivo de melhorar a quantidade e qualidade da água dos rios que cortam o município e contribuir com a qualidade de vida dos moradores da região. Os proprietários de terra estão sendo incentivados, por meio do apoio financeiro, a proteger as suas áreas com florestas e nascentes, a aumentar a cobertura vegetal de suas terras, adotar ações de saneamento ambiental e promover práticas conservacionistas de solo e recuperação de áreas degradadas.
De acordo com o coordenador técnico do projeto, Satio Kayukawa, a ideia surgiu em 2005, quando algumas autoridades municipais passaram a ficar inconformadas com as exigências da Promotoria do Meio Ambiente e do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para que os produtores rurais do município - minifundiários, em sua grande maioria - estivessem totalmente de acordo com a legislação ambiental, ainda que às custas de perda de renda e dificuldades econômicas. 'Decidimos premiar com dinheiro aqueles que faziam tudo direitinho e que mantinham a propriedade de forma ambientalmente correta'.