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Pecuária

Menos confinamento pode ser solução paliativa para crise da pecuária

29 junho 2017 - 00h00Por Notícias Agrícolas

No período de 18 meses a pecuária brasileira se viu no meio de uma avalanche de problemas. As notícias negativas vão desde a fragilidade da demanda interna, o real desvalorizado no final do ano passado encarecendo os insumos, o aumento da oferta, a operação Carne Fraca, a volta da cobrança do Funrural, a delação dos executivos da JBS, até recentemente, a suspensão das importações pelos Estados Unidos.

Com as escalas de abate relativamente longas em todo o país, especialmente considerando os frigoríficos de menor porte, não há no horizonte uma perspectiva de redução na oferta que possa aliviar a pressão nos preços. Em Juína (MT), o diretor da Famato (Federação de Agricultura do Mato Grosso) e presidente do sindicado rural do município, José Lino, afirma que na categoria dos machos cerca de 60% dos animais estão represados na região. Nas fêmeas esse percentual é superior.

"Não temos para quem vender, aqui no estado há uma grande concentração da JBS e poucos têm coragem de entregar no prazo. Os animais estão passando de 22 arrobas e começamos a ser remunerados com preço de vaca. Alguns produtores estão vendendo animais de 17 arroba para terminar no confinamento, mas as opções são restritas", conta Lino.

No MT, produtores com volume maior de cabeças venderam no prazo, mas agora aguardam o pagamento dos primeiros vencimentos para entregar novos lotes. Já as propriedades menores não arriscam a comercialização com pagamento para 30 dias e, acabam saturando os frigoríficos locais.

Em São Paulo, a pulverização das indústrias permite um cenário diferente dos estados do Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, onde a concentração da JBS é maior. As escalas não chegam a ultrapassar seis dias úteis. Contudo, o crescimento de animais vindos de fora também preocupa os pecuaristas do estado.

Oswaldo Furlan, produtor e fundador do Grupo Pecuária Bauru (GPB) diz que os pecuaristas estão bastante preocupados com a conjuntura atual. Algumas medidas sugeridas pelo setor, como a redução de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em alguns estados traria equilibro na oferta. Por outro lado, um aumento na disponibilidade de matéria prima para as indústrias paulistas, por exemplo, derrubaria os preços no estado referência. "Somos solidários a redução do ICMS, mas isso também pode ser um tiro no pé. Se as cotações caírem em São Paulo o preço recuará em todo o país", diz.

Em discussões por meio de aplicativo de mensagens instantâneas, um grupo de pecuaristas considera que a melhor medida a ser tomada neste momento é o controle da oferta. Segundo Furlan esse controle seria promovido pela redução no volume de animais confinados neste ano. A idéia principal é 'vender menos obtendo lucro, do que comercializar muito e ficar no prejuízo'.

"Precisamos convencer os pecuaristas a reduzirem o confinamento em todo o país. Se tivermos uma oferta que tem obrigatoriedade de sair em no máximo 90 dias será um segundo semestre muito apertado", pondera Furlan.

Sem um volume de oferta concentrado, os pecuaristas acreditam que seria possível segurar os níveis de preço e garantir a liquidez da produção.

"Do que adianta custo baixo, se a arroba está barata?", questiona o pecuarista do Mato Grosso. Além da queda na saca do milho - um dos principais insumos do confinamento -, as cotações do bezerro e boi magro também estão cerca de 30% menores neste ano, mas não tem motivado os produtores.

Embora a redução no confinamento possa prejudicar ainda mais a situação de comercialização da reposição, Furlan afirma que os criadores teriam a possibilidade de reter a produção - recriando os bezerros, por exemplo -, até que haja um novo equilibro entre oferta e demanda no mercado do boi gordo. "Infelizmente, chegamos num ponto onde é impossível fazer qualquer movimento sem considerar prejuízos, mas o controle de oferta permitirá que tenhamos um horizonte", diz.

Até lá, a palavra de ordem é venda compassada, já que o regime de chuvas tem sido o único alento da pecuária neste ano. Embora o inverno vigore há sete dias, muitas regiões ainda possuem pastos verdes, que “não dão condições de engorda, mas permitem o suporte dos animais”, ressalta Furlan.

Inclusive, na visão dos produtores a concentração de animais no final de safra deve ser melhor neste ano, já que o clima permitiu melhor gestão das entregas e, continuam dando sustentação dos animais na fazenda. Assim, com a incerteza de como se comportará a demanda no segundo semestre, a ponta inicial da cadeia se preocupa com a liquidez da produção e, prefere não pagar para ver até onde os preços podem cair.